Tenho pensado muito sobre sexo. Obsessivamente. Tô #alocadosexo.
Antes que vocês fiquem impressionados e com inveja da minha enorme disposição, vou logo contando: o que vim falar não tem nada a ver com o Kama Sutra ou o Rodrigo Hilbert — até penso nestas coisas, mas não é sobre elas que vim conversar com vocês.
Tenho refletido como sexo é uma coisa bacana e importante, como ele está relacionado diretamente com a felicidade das pessoas e, mesmo assim, é um assunto totalmente negligenciado na educação dos nossos filhos.
Olha, não estou falando sobre flores e abelhas, ou “de onde viemos”. Nem sobre contracepção ou orientação sexual. Estou falando em ensinar os nossos filhos a fazer sexo gostoso. Sexo com orgasmo para todo mundo, uma delícia. Isso mesmo. Tá chocada? Isso não é coisa de pai e mãe?
Pensar na felicidade dos filhos é dever dos pais. Tentar ajudá-los a serem pessoas bacanas e decentes também. Sexo tem tudo a ver com isso, minha gente…
Você já pensou onde os homens da nossa geração — e de todas as outras, acho — aprenderam a transar? Dou-lhe uma, dou-lhe duas: não tem muita dúvida, né? Na melhor das hipóteses, com pornografia.
Sem moralismos, qual é o problema da pornografia (há milhares, mas vamos falar dos que são relevantes para este texto)? Vamos lá:
1. O papel da mulher é bizarro
Se tem mulher no filme ela é adolescente, ou uma subordinada, ou está imobilizada. Esta é a regra. Desconheço um filme pornô hetero no qual dois adultos, em igual situação de poder e status, resolvem transar. Parece que isso não é tesudo. Mesmo nos filmes que há sexo entre mulheres, ele parece existir para deleite dos homens, o que é, no mínimo, o-fim-da-picada.
2. Destrói o conceito de consentimento
Sempre há um “não, não, não” antes dos olhos virando e os gemidos fingidos. Estes filmes trazem a ideia maluca de que as mulheres dizem NÃO querendo dizer SIM. Naturalizam a cultura do estupro com a maior cara dura.
3. Ignoram a fisiologia
Pensa em um filme pornô (ah, nem vem, eu tenho certeza que você já viu!). Você acha, como eu, que nas cenas de sexo os homens usam o pinto como uma britadeira? Será que ninguém disse aos diretores que as mulheres não querem ser perfuradas? Não há clitóris em filme pornô. Os mamilos são manipulados como chaves nas fechaduras. As preliminares são uma piada. É isso que os meninos aprendem e reproduzem.
4. Há o velho problema da representatividade
Neste tipo de filme, tudo o que não se encaixa no padrão magrx-altx-malhadx é apresentado como uma atração circense. Ainda se acrescenta ao drama o fatídico pintudo, que induz os espectadores a pensarem que só quem mede o pênis em metro tem vida sexual. É duro. #trocadilhoinfame
5. As mulheres também são convencidas que sexo é aquilo
Não dá para esquecer que meninas também consomem pornografia e também são convencidas que aquilo é normal. Passa a ser natural ser submetida, ter sua oposição desconsiderada, servir, servir, servir. Aquele sexo “martelete” entra na cabeça delas como satisfatório — afinal, as mulheres estão gemendo como loucas. Então, quando ela experimenta com o crush e não revira os olhos… é frígida. Ela não gosta de sexo. Seu corpo tem algum defeito, ela está errada. Já viram este filme?
Olha, é urgente: alguém tem que falar sobre sexo com os nossos filhos. A escola não vai falar. Os amigos sabem tanto sobre isso quanto eles. Então, só resta nós mesmos, os pais. Falar com amor, com naturalidade, com didática. Ensinar que o prazer do outro é importante e que o nosso também é. Contar que os casais têm que conversar, para saber do que de cada um gosta. Falar de contracepção, de orientação sexual, mas também de masturbação, bunda, pescoço, peito, pé, pênis e vagina. Desmistificar.
Porque isso, gente, também é ajudar a ser feliz.
Tudo que se diz no universo da pornografia é massivo, mas também muito delicado.
Toda a questão da conversa sobre o sexo além da concepção é correta, o sexo continua sendo um tabu e não é preciso ser assim, porém, atribuir essa culpa exclusivamente ao mercado pornográfico é errado. Essa lástima do sexo unilateral vem enraizada em toda uma cultura sexista heteronormativa.
O mercado pornográfico vai muito além daquele assistido nas páginas anônimas do navegador. Generalizar esse tipo de conteúdo é errado como generalizar qualquer outra condição. Dizer do que foge ao ‘padrão’ ser apresentado como ‘atração circense’ é muito raso. Tudo é apresentado conforme uma gama de interesses e sensações e só enxerga como ‘fora da curva’ quem se sente dessa forma.
Talvez não exista outro mercado que incorpore tão bem as excentricidades quanto esse. O público QUEER, BDSM, Gore e muitos outros provam muito bem o ponto. O pornô da moça do corpo escultural e do rapaz pintudo que o usa como britadeira sempre vai existir – assim como existem pessoas de todos os gêneros que sentem prazer no sexo praticado dessa forma, pessoas que sentem prazer em ser tratadas como ‘objeto’.
A questão é, não existem generalizações quando se fala sobre sexo. O que deve realmente ser ensinado é que o sexo é uma via de mão dupla e que deve haver diálogo entre os dois (ou mais) envolvidos para sempre tirarem o melhor proveito do momento e, que o se vê nas telas dos filmes, deve ser filtrado antes de ser colocado em prática.
Qualquer outro filme hollywoodiano não paga o pato por não mostrar a realidade, afinal de contas, são só filmes. Ninguém aprendeu a amar porque assistiu a filmografia do Woody Allen.
A educação sexual deve existir por inteira, mas o mercado pornográfico não precisa ser o vilão da história. O que mais falta é a educação, curiosidade e interesse em descobrir mais sobre o assunto e o que tem sobrado, é vergonha.
Nossa, excelente reflexão! Parabéns pelo texto!
O difícil é falar para ela que quer fazer com ela ou como ela quiser te ensinar ou em si perder o medo de uma negação ou humilhação